Aqui estão duas novas matérias de imprensa que abrem aspas para as minhas declarações. Uma delas feita ao jornalista Jorge Almeida Fernandes, editor chefe do jornal Português Público ao qual fiz algumas considerações acerca da breve lua-de-mel de Bolsonaro.
Segue:
Apesar dos números da
vitória, “a lua-de-mel vai ser curta”, previa há dois dias o politólogo Paulo
Kramer, membro da equipa de Bolsonaro. “Os primeiros cem dias não vão começar a
partir do 1.º de Janeiro, mas a partir do momento em que for declarado o
resultado das urnas. A situação do país é muito grave. Ninguém vai ter
paciência para esperar.”
O Congresso será o palco das próximas
grandes batalhas políticas. Bolsonaro está perante um teste: a aprovação da
reforma da Previdência. “Se não a aprovar no primeiro semestre, não a aprova
mais”, observou Kramer.
Ainda no cenário
internacional, os jornalistas Claudia Antunes e Henrique Gomes Batista, correspondentes do Jornal O
Globo no Rio de Janeiro e em Washington respectivamente citaram entrevistas por
mim concedidas a outras agências de notícias acerca dos possíveis nomes ao
Itamaraty (Vinculado também aqui no blog), acompanhe:
Apostas
para a Chancelaria
Na campanha, Bolsonaro disse duas vezes que
nomearia um diplomata chanceler. Além de Ernesto Araújo, citado por seu
assessor Paulo Kramer, diplomatas mencionam outros nomes: o embaixador Luís
Fernando Serra, que o presidente eleito conheceu em Seul (fala-se no Itamaraty
que “rolou uma química” entre os dois); e Pedro Bretas, que está encerrando seu
período como embaixador no Canadá e teria a simpatia do general Heleno Pereira.
Se preferir optar por nomes que provoquem menos
resistência da maioria dos diplomatas, são mencionados embaixadores aposentados
como Rubens Barbosa (ex-embaixador nos EUA) e Luiz Felipe de Seixas Corrêa
(ex-vice-chanceler), que é sogro de Ernesto Araújo. De fora do quadro
diplomático, o nome mais mencionado é o da senadora Ana Amélia (PP-RS), que
concorreu à vice de Geraldo Alckmin, declarou voto no candidato do PSL na
primeira hora e há poucos meses equiparou a rede de TV Al Jazeera, do Qatar, ao
Estado Islâmico.
O
ocidentalismo ortodoxo
No início de outubro, em entrevista à agência
Reuters, o cientista político Paulo Kramer, da assessoria de Bolsonaro, indicou
como possível chanceler do próximo governo o embaixador Ernesto Araújo, diretor
do Departamento de EUA, Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty.
No segundo semestre de 2017, Araújo publicou em
uma revista do centro de estudos do Itamaraty o ensaio "Trump e o
Ocidente”, que se tornou referência no círculo bolsonarista. Nele, o embaixador
afirma que o presidente americano assumiu a missão de resgatar a civilização
ocidental, sua fé cristã e suas tradições nacionais forjadas "pela cruz e
pela espada". Essa civilização, escreveu Araújo, está sendo corroída
pelo “inimigo interno”, aqueles que esqueceram a própria identidade sob a
influência do “marxismo cultural globalista”, cujo marco inicial seria a
Revolução Francesa, anterior a Karl Marx.
Abaixo a matéria do jornal O Globo na íntegra:
O que se pode esperar de Bolsonaro
na Política Externa
Diplomatas avaliam que diplomacia poderá ser a mais alinhada aos EUA
desde o governo do marechal Humberto Castelo Branco
RIO E WASHINGTON — A julgar por declarações da campanha, a política
externa liderada por Jair Bolsonaro será a mais alinhada aos Estados Unidos
desde o governo do marechal Humberto Castelo Branco, o primeiro depois do golpe
de 1964, segundo analistas e diplomatas ouvidos pelo GLOBO. Essa orientação
decorreria menos de cálculos estratégicos do que da associação que Bolsonaro e
sua equipe buscaram com o ideário de Donald Trump, em especial no que diz
respeito à retórica nacionalista e à desconfiança das instituições
multilaterais.
— Trump quer que os Estados Unidos sejam grandes, eu também quero um
Brasil grande — disse Bolsonaro em julho no programa Roda Viva.
O general Augusto Heleno Pereira, possível ministro da Defesa, já
declarou ao GLOBO que as relações com os EUA “podem melhorar”, e criticou a
“prevenção enorme” da esquerda em relação à superpotência. Na última
sexta-feira, o presidente do PSL, Gustavo Bebbiano, reagindo a uma declaração
da observadora eleitoral da OEA sobre fake news, disse que o
organismo interamericano tem “zero credibilidade”, e que, como a ONU, tem “viés
esquerdista, globalista”. Filho do capitão, Eduardo Bolsonaro, deputado federal
por São Paulo, esteve em agosto com Steve Bannon, ideólogo da campanha de Trump.
O ocidentalismo ortodoxo
No início de outubro, em entrevista à agência Reuters, o cientista
político Paulo Kramer, da assessoria de Bolsonaro, indicou como possível
chanceler do próximo governo o embaixador Ernesto Araújo, diretor do
Departamento de EUA, Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty.
No segundo semestre de 2017, Araújo publicou em uma revista do centro de
estudos do Itamaraty o ensaio "Trump e o Ocidente”, que se tornou
referência no círculo bolsonarista. Nele, o embaixador afirma que o presidente
americano assumiu a missão de resgatar a civilização ocidental, sua fé cristã e
suas tradições nacionais forjadas "pela cruz e pela espada". Essa
civilização, escreveu Araújo, está sendo corroída pelo “inimigo interno”,
aqueles que esqueceram a própria identidade sob a influência do “marxismo
cultural globalista”, cujo marco inicial seria a Revolução Francesa, anterior a
Karl Marx.
O ensaio dá pistas para interpretações de obsessões de Trump, como seu
desejo de se aproximar da Rússia (bastião do cristianismo ortodoxo) e seus
reiterados ataques à Alemanha (que teria jogado fora a criança, o nacionalismo,
junto com a água da bacia, o nazismo). Termina conclamando o Brasil a, sem
desprezar sua tradição de política externa autônoma, “alinhar-se consigo mesmo”
e integrar-se a ao projeto de “recuperação da alma do Ocidente”. Até porque,
alega o embaixador Araújo, Trump não é imperialista, mas defende o respeito
mútuo entre “nações soberanas e independentes”.
Embora ressalte que é difícil fazer previsões com base apenas no que foi
declarado por Bolsonaro e seus colaboradores, o cientista político Dawisson
Belém Lopes, professor de relações internacionais da UFMG, avalia que, se
adotar o trumpismo como modelo, o presidente eleito tenderá a fazer uma
política externa personalista e contrária ao multilateralismo.
Lopes explica que o Brasil sempre foi “ocidentalista”, com diferentes
gradações, segundo classificação feita pelo embaixador Gelson Fonseca,
autor de livros e ensaios sobre a política externa: "ortodoxa" nos
governos Castelo e Eurico Gaspar Dutra; "matizada" com Fernando
Collor, Fernando Henrique Cardoso e Juscelino Kubitschek; e
"heterodoxa" com João Goulart, Ernesto Geisel e Luiz Inácio Lula da
Silva.
— Bolsonaro deu indicações de que estará no primeiro grupo, mas é bom
lembrar que em nenhum dos dois casos já ocorridos o alinhamento durou muito. É
uma aposta equivocada, e não acho que o Brasil será tratado com a deferência
que dão à Rússia, à Índia ou a Israel — disse o especialista da UFMG.
Descarte de propostas
Entre conhecedores da diplomacia, a expectativa é de que Bolsonaro
nomeie um chanceler atento à trajetória diplomática brasileira, que o convença
a descartar propostas inspiradas em iniciativas de Trump e que eles consideram
temerárias para o país: questionar acordos ambientais (Bolsonaro já disse que
desistiu de tirar o Brasil do Acordo do Clima de Paris); abandonar organismos
de direitos humanos; transferir a embaixada em Israel para Jerusalém (além dos
EUA, só a Guatemala o fez); ou antagonizar demais a China, maior parceiro
comercial do país e membro dos Brics, cuja cúpula de 2019 será no Brasil (a
visita de Bolsonaro a Taiwan, em fevereiro, motivou uma nota de protesto da
embaixada chinesa).
— Os EUA fazem essas coisas, mas são uma superpotência. Se levar essas
ideias adiante, Bolsonaro acentuaria o isolamento do país a um ponto enorme —
diz o embaixador aposentado e ex-ministro de vários governos Rubens Ricupero,
autor de “A diplomacia na construção do Brasil: 1750-2016”.
O também diplomata aposentado José Alfredo Graça Lima, que já
representou o Brasil em organismos comerciais e hoje é conselheiro do Centro
Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), afirma que “determinadas frases
[de Bolsonaro] terão que ser revistas à luz da realidade”:
— Haverá um processo educativo, que vai evoluir de acordo com a sua
assessoria.
Nem Ricupero nem Roberto Abdenur — que foi vice-chanceler no governo FHC
e embaixador na China, entre outros países — acreditam que o alinhamento
com Washington possa automaticamente beneficiar o Brasil. Para Abdenur, o país
“corre o risco de ser colocado em uma posição subalterna” e deve ter em mente
que podem surgir contenciosos comerciais com Washington, já que Trump
recentemente criticou o Brasil por ser “muito duro” nas negociações de
comércio.
— Bolsonaro pode conseguir a simpatia retórica, mas Trump é América
Primeiro. Ele só quer levar vantagem e já criticou as práticas comerciais do
Brasil. Com esse tipo de amigo, não precisamos de inimigo — afirmou
Ricupero.
Governo Trump prevê proximidade
No governo dos Estados Unidos, a eleição de Bolsonaro é vista como uma
oportunidade. Ele seria um contraponto à eleição no México do esquerdista
Andrés Manuel López Obrador, que toma posse em 1º de dezembro.
— Acreditamos que Bolsonaro pode ser tão próximo do governo Trump como é
o premier israelense Benjamin Netanyahu — disse uma alta fonte da diplomacia
americana.
Embora as posições do presidente eleito sobre China e Jerusalém agradem
os encarregados da diplomacia trumpista, é pela questão da Venezuela que
os americanos mais “torciam” por Bolsonaro. Eles acreditam que o Brasil adotará
uma atitude mais drástica contra o regime de Nicolás Maduro, em contraste com a
orientação atual do Itamaraty, que condena as violações de direitos humanos no
país, mas tenta deixar uma porta aberta para o diálogo com Caracas.
Segundo representantes de países latino-americanos em Washington,
Bolsonaro pode ser o incentivo que faltava para que outros governos da região,
como a Colômbia — que recentemente se recusou a assinar uma carta
criticando o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, por considerar o uso da
força contra Caracas —, ampliem a pressão contra o governo venezuelano.
Bolsonaro vem engrossar uma onda de governos de direita na América do Sul,
com presidentes dessa orientação política eleitos em Argentina, Chile, Colômbia
e Paraguai. Para os analistas, isso não significa que ele terá apetite ou
encontrará receptividade se pretender assumir um papel de liderança na
região. Embora muitos apostem que Bolsonaro acabará "normalizado",
mesmo com a má repercussão de suas declarações contrárias à democracia e aos
direitos humanos, em países como Argentina e Chile o elogio a ditaduras
continua sendo inadmissível para a maior parte da opinião pública.
Antecipa-se, além disso, uma certa “competição” para ver quem é o país
sul-americano mais amigo dos Estados Unidos, posição que nas últimas décadas
tem cabido à Colômbia.
Em outros centros de poder em Washington, o pessimismo é maior do que no
governo. Organismos multilaterais temem retrocessos nos direitos humanos, com
aumento da violência no campo, o avanço de milícias e de crimes de ódio.
Apostas para a a Chancelaria
Na campanha, Bolsonaro disse duas vezes que nomearia um diplomata
chanceler. Além de Ernesto Araújo, citado por seu assessor Paulo Kramer,
diplomatas mencionam outros nomes: o embaixador Luís Fernando Serra, que o
presidente eleito conheceu em Seul (fala-se no Itamaraty que “rolou uma
química” entre os dois); e Pedro Bretas, que está encerrando seu período como
embaixador no Canadá e teria a simpatia do general Heleno Pereira.
Se preferir optar por nomes que provoquem menos resistência da maioria
dos diplomatas, são mencionados embaixadores aposentados como Rubens Barbosa
(ex-embaixador nos EUA) e Luiz Felipe de Seixas Corrêa (ex-vice-chanceler), que
é sogro de Ernesto Araújo. De fora do quadro diplomático, o nome mais
mencionado é o da senadora Ana Amélia (PP-RS), que concorreu a vice de Geraldo
Alckmin, declarou voto no candidato do PSL na primeira hora e há poucos meses
equiparou a rede de TV Al Jazeera, do Qatar, ao Estado Islâmico.