Trecho da reportagem publicada na no último dia 8 no Jornal espanhol El País sobre os novos rumos da campanha presidencial no qual faço algumas considerações.
A 30 dias da eleição, ataque a Bolsonaro força freio de arrumação na campanha
Atentado contra o deputado em Juiz de Fora redefine os parâmetros da disputa eleitoral.
Institutos divulgam na segunda pesquisas que devem começar a medir o efeito do ocorrido
Para o cientista político Paulo Kramer, as estratégias de desconstrução de Bolsonaro foram desarmadas e "a facada tirará do armário votos que estavam envergonhados". Ou seja, Bolsonaro pode ampliar a vantagem nas pesquisas. Algo que deve começar a ser medido pelas próximas pesquisas de intenção de voto, que vinham mostrando sua candidatura como a mais popular depois da do ex-presidente Lula, já barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas também a mais rejeitada. Institutos como Ibope e Datafolha farão novos levantamentos ao longo da próxima segunda-feira e as divulgam na noite do mesmo dia.
Ânimos acirrados
As análises mais óbvias e simplistas levam a crer que o atentado teria garantido Bolsonaro no segundo turno, já que ele lidera as pesquisas e, blindado pelo ocorrido, não estaria exposto às tentativas de desconstrução de seus adversários. Mas a dinâmica ainda está por se desenvolver, e depende entre outras coisas, da evolução do quadro clínico do deputado federal e de sua capacidade de mobilizar a atenção política pelos próximos dias — o esperado anúncio de Fernando Haddad como substituto de Lula na chapa do PT, aguardado para o início da semana, já teve seu impacto amortecido no noticiário. Até agora, Bolsonaro era o candidato com as mais expressivas imagens de campanha, praticamente o único a reunir um número considerável de apoiadores pelas ruas do país. Isso não deve mais acontecer, mas, mesmo debilitado, o candidato do PSL gravou vídeos e postou mensagens que circulam com ainda mais intensidade pelas redes sociais por meio das mãos de seus apoiadores.
As estratégias de sua própria campanha e a forma de lidar com o ocorrido podem atrair ou afastar votos de Bolsonaro. Seu vice, General Mourão (PRTB), chegou a acusar o PT de ser o responsável pelo ataque, para em seguida advertir que “se querem violência, os profissionais da violência somos nós”. Nesta sexta-feira, contudo, o tom do vice já veio mais baixo. "As primeiras declarações são sempre na base da emoção, e aí as pessoas dizem coisas que não deveriam dizer. Há um velho ditado que diz: 'as palavras, quando saem da boca, não voltam mais'. Portanto, vamos manter a calma. O caso está nas mãos da Polícia Federal", disse. Nas redes sociais, contudo, os ânimos seguem acirrados dos dois lados. Enquanto os opositores de Bolsonaro tentam diminuir a relevância do atentado e criticam o comportamento do deputado em outros incidentes, como o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), seus apoiadores jogam lenha na fogueira com acusações para todos os lados e espalham informações sem confirmação. O pastor Silas Malafaia, por exemplo, disse que o autor do atentado assessora a campanha da ex-presidenta Dilma Rousseff ao Senado. A campanha de Dilma prometeu processá-lo por injúria, calúnia e difamação.
A SEGURANÇA DOS CANDIDATOS
Um impacto prático certo para a campanha será a ampliação da segurança de todos os candidatos à presidência da República "que assim o desejarem", segundo informou a Polícia Federal (PF). Atualmente, apenas cinco dos 13 candidatos se valem dessa escolta diária: Bolsonaro, Alckmin, o senador Álvaro Dias (Podemos-PR), o ex-governador Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva. Conforme a PF, esse reforço na segurança segue um protocolo definido para casos em que um dos concorrentes sofre alguma intercorrência, como o atentado da quinta-feira contra Bolsonaro em Juiz de Fora (MG). Não há informações sobre o número de agentes que passarão a trabalhar nas campanhas. Atualmente, cada um recebe 21 seguranças, número que pode aumentar conforme o evento de que participem.
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